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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

LONTRAS QUE SALVAM

Lontras recuperam ambiente marinho ameaçado por algas na Califórnia (EUA)
 
 

O retorno das lontras a um estuário (transição entre rio e mar) da Califórnia, nos Estados Unidos, ajudou a salvar o ecossistema da região de Elkhorn Slough. Até a chegada desse predador, o ambiente aquático estava ameaçado pelas algas, cuja proliferação na superfície da água bloqueia a chegada de luz ao fundo do mar, afetando a sobrevivência da vegetação marinha, habitat para peixes. Como se alimentam de caranguejos, as lontras diminuem a quantidade de predadores das lesmas-do-mar que passaram a comer mais algas marinhas - Ron Eby/AP
 
O retorno das lontras a um dos maiores estuários da Califórnia, no Oeste dos Estados Unidos, permitiu recuperar a vegetação marinha, que serve de habitat para os peixes e desempenha um papel essencial na proteção dos ecossistemas costeiros, afirmaram biólogos esta segunda-feira (26).
 
Estes cientistas, que estudaram durante várias décadas o declínio e a recuperação da vegetação marinha no Estuário de Eikhorn Slough, na região Norte da Califórnia, constataram que o aumento da população de lontras foi um fator chave para a recuperação do meio ambiente, informaram em estudo na revista da Academia de Ciências dos Estados Unidos, a PNAS.
 
A vegetação marinha está diminuindo em todo o mundo devido ao uso excessivo de fertilizantes e outros nutrientes provenientes da exploração agrícola e das áreas urbanas em águas costeiras, impulsionando o crescimento de algas, que impedem que a vegetação marinha receba luz do Sol.
 
Mas nas últimas décadas, a vegetação marinha de Elkhorn Slough voltou a crescer, explicaram estes biólogos, entre eles Brent Hughes, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, um dos principais autores deste trabalho.
 
Estes cientistas estudaram a reação provocada no estuário pelo retorno das lontras em 1984. Estes animais não têm impacto direto na vegetação marinha, mas ajudam a preservá-la, ao comer grandes quantidades de caranguejos.
 
Alimentando-se dos crustáceos, elas eliminam uma ameaça chave para as lesmas-do-mar. Por sua vez, as lesmas-do-mar comem algas e permitem que as plantas marinhas se mantenham saudáveis. Isto significa que a presença de um predador ajudou a salvar o ecossistema.
 
"Este estudo proporciona outro exemplo das fontes interações exercidas pelas lontras nas populações de caranguejo e os efeitos em cascata sobre o ecossistema pelos transtornos da cadeia alimentar", disse Tim Tinker, biólogo no Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), um dos coautores do estudo.
 
"Esta pesquisa também nos lembra que os animais sem predador, que desaparecem em grande número no planeta, desempenham um papel importante no equilíbrio de muitos ecossistemas", acrescentou.
 
Fonte: AFP/UOL Ambiente

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

OLINGUITO


Nova espécie de mamífero é descoberta nas florestas da América do Sul
     
DA "ASSOCIATED PRESS"

Pesquisadores anunciaram nesta quinta a rara descoberta de uma nova espécie de mamífero, chamado de 'olinguito'. O animal pertence ao mesmo grupo de cachorros, gatos e ursos.
Do tamanho de um guaxinim, o 'olinguito' vive nas árvores das florestas do Equador e Colômbia e tem hábitos noturnos, segundo a publicação da revista científica "ZooKeys". Pesquisadores do National Zoo de Washington esperavam encontrar a espécie há uma década.
 
FOTO: Mark Gurney/Associated Press
Olinguito vive em árvores das florestas do Equador e Colômbia

No entanto, segundo Kristofer Helgen, curador de mamíferos do zoológico americano, um exemplar da espécie vivia no museu sem que ninguém tivesse percebido até a catalogação da nova espécie. O animal, apelidado de Ringerl, viveu em diversos zoológicos nos Estados Unidos entre 1967 e 1976. O pesquisador explica que só depois descobriu-se que ele não tinha dificuldade de se entrosar com os outros exemplares. Ringerl simplesmente não era da mesma espécie.
 
Helgen chefiou a equipe que pesquisou a nova espécie na América do Sul em 2006. Após estudar esqueletos dos animais em museus, os pesquisadores encontraram o 'olinguito' em seu habitat natural.
 
Descobertas de novas espécies são comuns, mas elas geralmente incluem pequenos animais. Segundo os pesquisadores, uma descoberta genuinamente nova e significante como essa não acontecia há 35 anos.

 

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

AMBIENTALISTA MORTO

Ambientalista espanhol é morto a tiros no Rio de Janeiro 
 
Polícia relaciona sua morte com suas denúncias para proteger o meio ambiente
 
Juan Arias
EL PAÍS
 
O biólogo Gonzalo Alonso Hernandez, em uma cortesia de imagem de sua viúva.
 
O biólogo espanhol Gonzalo Alonso Hernandez, 48 anos, um proeminente ativista ambiental, foi encontrado morto na terça-feira, perto de sua casa em uma cachoeira no Parque Estadual Cunhambebe, no estado do Rio de Janeiro. Ele morava no país com sua esposa há 10 anos. Ele foi executado em sua casa e, em seguida, jogado nas águas de um lugar que, por anos, lutou contra os caçadores furtivos e incendiários que buscavam criar pastos para o gado. A polícia e sua viúva, Maria de Lourdes Pena Campos, relacionam o crime com suas insistentes denúncias e sugerem que ele pode ter sido torturado.
 
Os investigadores encontraram manchas de sangue na casa. A esposa de Gonzalo, que trabalha no Rio e retorna para sua casa nas montanhas no fim de semana, tinha ido para o trabalho.
 
Embora ainda não tenha dado uma versão oficial dos motivos para o assassinato, o Consulado do Rio, que está em contato com a polícia, não tem mais dúvidas de que foi um crime por sua luta contra crimes ambientais no parque natural de Cunhambebe.
 
 
Ele foi morto em casa, e jogado em uma cachoeira defendendo o parque
 
 
Sua esposa confirmou para o EL PAÍS que o marido "estava sempre em guerra com os caçadores, criadores de gado no parque e contra incêndios para abrir espaços para os agricultura". Gonzalo também se destacou por sua defesa de espécies de plantas e animais em perigo de extinção.
 
O biólogo foi transferido pela Telefónica para o Brasil, onde atuou como diretor no Rio de Janeiro da empresa de telefonia móvel Vivo. Em 2005, ele deixou o cargo para se dedicar exclusivamente ao trabalho ambiental. Ele trabalhou como voluntário na ONG Instituto Terra, que está ligada à CNT EUA.
 
A polícia confirmou que a casa do biólogo não tinha apenas o computador, provavelmente para apagar os traços de suas reivindicações na área ambiental. Seus assassinos também cortaram a linha telefônica e luz em sua casa.
 
A viúva destacou o fato de que o biólogo foi executado em sua casa e seu corpo foi jogado em uma cachoeira do parque cuja proteção tinha vindo a defender há oito anos. Ela afirmou que não tem dúvida de que o crime foi cometido por aqueles que foram tocados por suas queixas. "Ele nunca teve  inimigos, além daqueles que foram denunciados por suas ilegalidades contra a natureza", disse ainda muito afetada pela tragédia, mas com firmeza.

 
Pesquisadores acreditam que pode ter sido torturado
 
  
Gonzalo Alonso Hernandez nunca recebeu ameaças explícitas. O único fato anormal que Maria de Lourdes lembra é "que vi voar sobre a casa, um dia antes do assassinato, um helicóptero voando baixo, algo que nunca tinha acontecido antes". Naquele momento, eles não se importam.
 
Felipe Paranhos, da ONG Instituto Terra, que conhecia o ativista, disse que o biólogo também trabalhava com um projeto do governo do Rio de Janeiro para a proteção das águas do parque - muito importante do ponto de vista ambiental.
 
"Ajudou muito a todos nesta luta para proteger as fontes de água", disse Paranhos. Perguntado sobre o que ele achava das autoridades locais, explicou: "Gonzalo chegou com mentalidade europeia que tudo que é ilegal é para denunciar abertamente". Ele acrescentou: "E você sabe que no Brasil a mentalidade é diferente." Ele quis dizer que aqui você não pode desafiar abertamente, muitas vezes certos interesses protegidos por caciques locais.
 
Uma das principais razões pelas quais a polícia suspeita que o crime foi ordenado por aqueles que foram expostos pelo ecologista espanhol é o fato de que a única coisa que foi roubada de sua casa foi o computador. "Eles provavelmente fizeram isso para levar as informações coletadas pelo biólogo contra as ações ilegais no parque", disse o oficial de polícia, Marco Antonio Alves.
 
As autoridades brasileiras ainda não se pronunciou sobre o crime o tempo da imprensa. O Ministério das Relações Exteriores espanhol só confirmou sua morte.
 
 
Fonte: EL PAÍS
Tradução: Fernando José Pimentel Teixeira
 
 

terça-feira, 6 de agosto de 2013

AMBIENTALISTAS NA MIRA

Caçador agride ambientalistas com arma de fogo
 
Silvia Marcuzzo
Caçador saindo de traz do palmiteiro com a arma apontada para Wigold. Foto: Wigold B. Schaffer.

“O que acontece, quando no meio da mata, por detrás dos arbustos, não é um bicho que aparece, mas sim um caçador camuflado e armado, que vem em sua direção com um rifle com mira telescópica apontado diretamente pra você? Pode acontecer um tiro de raspão na mão, por conta do reflexo de defesa da pessoa, mas pode acontecer o pior, que é o que via de regra acaba acontecendo, quando o alvo é um animal”.

Wigold B. Schaffer e Miriam Prochnow, Conselheiros da Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi), formam vítimas de agressão e ficaram reféns sob a mira de arma de fogo e ameaça de morte por mais de 30 minutos, neste domingo dia 04/08/2013, quando faziam um passeio pela mata de sua propriedade em Atalanta/SC. Saíram de sua casa por volta das 10 horas em companhia de sua filha Gabriela para dar uma caminhada no meio da mata e fazer fotos da flora e fauna. A caminhada transcorria tranquíla e alegre com muitas fotos de pássaros até que, por volta das 10:30h em meio a uma pequena trilha foram atacados de surpresa por um caçador.

Wigold conta que o homem surgiu de repente, com vestimenta camuflada da cabeça aos pés, empunhando uma arma de fogo dessas que utilizam um “pente” de munição e mira telescópica. “Ao perceber algo se movimentando atrás de uns palmiteiros jovens inicialmente pensei tratar-se de algum animal e comecei a fotografar, segundos depois surge o caçador vindo em minha direção com o dedo no gatilho e a arma apontada diretamente para mim”, relata Wigold. Por instinto de fotógrafo, Wigold conta que continuou fotografando a aproximação do agressor e gritou por socorro, já que sua esposa Miriam e sua filha Gabriela vinham uns 50 metros atrás. “O agressor não parou, veio direto em minha direção com a arma apontada, até quase encostar o cano em meu rosto, aí ele tentou arrancar a câmera fotográfica de minhas mãos, nesse momento, num gesto de desespero e reflexo segurei o cano da arma e o desviei do meu corpo, foi quando ele puxou o gatilho e atirou, o tiro passou muito perto do meu peito” conta Wigold.

Após o disparo, Wigold conta que continuou segurando o cano da arma com as duas mãos enquanto o caçador tentava novamente virar o cano e apontar em sua direção, como não obteve êxito passou a agredir violentamente a vítima com chutes, coronhadas e até com a própria máquina fotográfica, que se partiu quando o agressor a bateu na cabeça da vítima.

As agressões foram interrompidas alguns minutos mais tarde com a chegada de Miriam, que estava um pouco atrás. “Ao ouvir o grito de socorro do Wigold e em seguida o disparo da arma, imediatamente pedi que a minha filha Gabriela corresse até em casa e chamasse a polícia, relatou Miriam. Ela também relata que ao chegar perto do local viu o Wigold deitado no chão e o homem batendo nele com a coronha da arma: “Enquanto me aproximava fui tirando fotos para registrar a agressão e ao mesmo tempo reconheci o agressor e o chamei pelo nome”. Ao perceber a aproximação da Miriam e ver que ela também estava registrando o que acontecia, o agressor parou de espancar o Wigold e passou agredir a Miriam na tentativa de também lhe tirar a câmera fotográfica.

Os 2 ambientalistas ficaram ainda por mais de 20 minutos sob a mira da arma do caçador, que sob ameaça queria lhes tirar as câmeras fotográficas. A situação só parou quando Miriam anunciou que a polícia já deveria estar chegando pois a Gabriela saíra em busca de socorro logo após o disparo da arma. Pouco depois, o homem se afastou caminhando de costas, sempre com a arma apontada em direção ao casal, até se embrenhar na mata.

Os ambientalistas Wigold e Miriam, nascidos na região do Alto Vale do Itajaí, tem destacada atuação em defesa da Mata Atlântica. O casal voltou para Atalanta depois de 14 anos trabalhando em Brasília. Wigold trabalhou por mais de 13 anos no Ministério do Meio Ambiente e Miriam fortaleceu a atuação da Apremavi em colegiados de âmbito nacional, como a Rede de ONGs da Mata Atlântica (RMA), onde foi Coordenadora Geral. Hoje é Secretária Executiva do Diálogo Florestal Brasileiro e conselheira do Diálogo Florestal Internacional. Os dois são fundadores da Apremavi, que completou 26 anos este ano.

A situação vivida pelos ambientalistas aponta na verdade para uma realidade ambiental grave no Alto Vale do Itajaí e outras regiões de Santa Catarina, que é a caça. A caça de animais nativos é proibida no Brasil, mas continua sendo praticada e com um agravante, ela está sendo praticada por jovens, com equipamentos cada vez mais sofisticados, que acabam não dando nenhuma chance de reação aos animais e também acabam provocando situações como a vivida no último domingo.

As vítimas já denunciaram as agressões junto às Polícias Civil, Militar e Ambiental, bem como ao Ministério Público Estadual e Federal. Nos próximos dias, a Apremavi, juntamente com outras instituições de Santa Catarina e do Brasil, estará deflagrando uma ampla campanha junto aos órgãos públicos para que estes realizem operações de fiscalização da caça, soltura de animais aprisionados e apreensão de armas na região.

Caçador agride Wigold, que está caído no chão.
Foto: Miriam Prochnow

Tentativa de negociação para que o caçador os deixasse ir embora, ambientalista com a mão ferida..
Foto: Miriam Prochnow 


Fonte: APREMAVI